sexta-feira, 5 de junho de 2009

Natureza e Cultura

«O homem é, portanto, um animal portador de cultura, e é esse elemento que o distingue dos outros primatas sociais. Estes, embora na posse de tradições (ver Lorenz, Schaller, Marais), nunca se revelaram capazes de as dinamizar com inventos, transmitindo e acumulando nas suas sociedades hierarquizadas as descobertas dos génios individuais. Como explica Konrad Lorenz, só a tradição humana é cumulativa, o que possibilita o progresso do conhecimento e o aperfeiçoamento constante do aparelho cultural face à realidade. Daí que qualquer retrocesso neste processo de adequação das sociedades ao meio se deva entender como uma involução perigosa para a humanidade.

É por isso que os movimentos inspirados nas palavras de ordem de Jacob Rousseau, ao propagar que o homem é originalmente bom e ao ver na cultura o vector da corrupção, não veiculam mais que um romantismo perigoso. Os grupos que levaram à prática tais ideias, isolando-se em ilhas afortunadas e afastando conscientemente toda a capa cultural, acabaram caçando-se uns aos outros (ver "El Mono Vestido", Nácher, Rotativa). O regresso à Natureza, ao paraíso perdido, onde o homem livre da influência perniciosa da civilização (cultura) levaria uma vida pacífica e alegre, não passa de um dos elementos mais conhecidos da mitologia romântica do século XIX, expoente de uma espantosa ignorância antropológica e de um preconceito sem tempo: a ideia de que o homem se faz de fora para dentro. Ora a Genética prova que o homem se faz de dentro para fora, bem como a Etologia e a experiência mística documentada. Sem cultura, como põem em evidência as investigações de Robert Broom e de Raymond Dart na savana sul-africana e da família Leakey no Quénia, o homem nem sequer chegaria a ter o peso civilizacional do homem-macaco (australopiteco), uma vez que estes ascendentes do homo sapiens já tinham uma cultura material e espiritual: viviam em sociedades territoriais hierarquizadas, praticavam a caça comunitária, comunicavam-se por um código grupal e usavam armas. A sua Cultura de Seixos, como foi designada, permitiu-lhes sobreviver no meio natural, onde a concorrência com os grandes predadores e outros grupos de hominídeos exigia o aperfeiçoamento contínuo do aparelho cultural.»

António Marques Bessa

1 comentário:

Manuel disse...

Só uma candidatura se apresenta a estas eleições europeias como sendo pró-Pátria, pró-Vida e pró-Família, e a única não-internacionalista, não-federalista, não-globalização. Essa candidatura é a lista Nacionalista do PNR liderada por Humberto Nuno Oliveira. Não votar não é protestar, a abstenção é a arma dos políticos do sistema, que preferem ter os cidadãos longe da política.

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