quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O Estado cúmplice

«Acusas os dirigentes de serem coniventes com os selvagens e os criminosos, diz o colegial. Não somente eles não fariam nada para combater a criminalidade mas não poupariam sequer qualquer meio para a ajudar a desenvolver-se. Que seja… Mas, de facto, porquê? Por que é que não combatem a criminalidade? Ela é-lhes de grande importância, diz a Advogada. Devem-lhe, de facto, o seu poder. Sem ela, cairiam. É ela que lhes assegura o funcionamento quotidiano. Sim, quotidiano. O autor explicará isso melhor que eu. Ele desenvolveu toda uma teoria a esse respeito: a desordem como condição da ordem, etc. Não é sem relação com a teoria do Caos. Se te interessas por essas coisas, diz a estudante, vai ver American Gangster, o último filme de Ridley Scott. Há no filme uma réplica interessante. Conto-ta como me lembro, completando-a apenas um pouco. Salvo erro, é o mafioso em pessoa que a formula, depois da sua detenção. O mafioso negro de Harlem. Dirige uma vasta rede de distribuição de heroína. E coloca a questão: o que aconteceria se tal mercado desaparecesse? A resposta é clara: são centenas de milhar de empregos que desapareceriam ao mesmo tempo: polícias, claro, mas também advogados, juízes, carcereiros, funcionários aduaneiros, treinadores de cães especializados na detecção de droga, médicos e outros profissionais de saúde, trabalhadores sociais, sociólogos, etc. Não reflectimos o suficiente sobre as ligações entre a economia e a criminalidade. Sabemos que a criminalidade custa caro, mas paralelamente, também, o que esquecemos é que ela faz viver muita gente. Os próprios criminosos, claro, mas não somente. Todo o tipo de outras pessoas também.»

Éric Werner

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