quinta-feira, 20 de novembro de 2008

José António, presente!

"A entrada de José António na actividade política fez-se com um objectivo determinado: defender a memória do pai, o General Primo de Rivera, ultrajada diariamente após a sua queda e, sobretudo, depois da sua morte: «O povo de Madrid negar-me-á os seus votos? (...) Um lugar nas Cortes para defender a memória do meu Pai!». Daí à consciência do momento histórico em que vivia e à análise crítica que tem de acompanhar essa consciência, foi um passo que durou três anos; de 1931 - campanha eleitoral para defender o pai - ao discurso do Teatro da Commedia em Outubro de 1933, geralmente considerado o primeiro acto da Falange. Essa data é um ponto de viragem nítido. Embora no período imediatamente anterior José António tivesse publicado bastante na Imprensa, não se notava nesses artigos o que viria a revelar-se no discurso «fundacional»; o homem consciente do processo histórico, com espírito decidido, com sentido poético que não significa falta de lucidez, mas sacrifício, renúncia e pureza ideal.
Mas a entrada na fase falangista começa a marcar também na vida de José António a passagem da revolta contra o seu tempo à assunção revolucionária do seu País. Este processo de alteração que o discurso da Commedia começa a revelar e se vai definindo cada vez mais claramente, é a condição para se superar o reaccionarismo ou os perigos do acomodamento à realidade. Consciente do seu tempo e do seu espaço, com desgosto, mas sem lágrimas, propondo alternativas para o sistema, aqui nasce a lucidez - sem a qual a revolta desembocará no conformismo ou no suicídio moral - que o faria dizer em Novembro 1934, atacando o reformismo social capitalista: «dedicar-se a diminuir as horas de trabalho, a aumentar os salários, a aumentar os seguros sociais, significa o mesmo que querer conservar uma máquina e passar o tempo a deitar-lhe areia nas engrenagens. (...) Pelo contrário, o que nós queremos com a maior participação do operário, com a participação do sindicato operário nas funções do Estado, não é fazer avanços sociais um a um, como quem concede regateando, mas a estruturação da economia de cima a baixo, de modo distinto», isto é, a superação do capitalismo."

José Miguel Júdice
in "José António Primo de Rivera", Edições Falcata, 2006.

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