sexta-feira, 25 de julho de 2008

A Sociedade do Espectáculo e a Sociedade do Jogo

A Sociedade do Espectáculo, denunciada em 1967 por Guy Debord como uma sociedade de alienação, não fundada exclusivamente sobre a exploração económica, mas também sobre a ditadura permanente das imagens e dos objectos e sobre a multiplicação de experiências simuladas pela indústria da distracção; sofisticou-se consideravelmente. Não unicamente pela exposição da esfera audiovisual e da Internet, mas também porque esta sociedade do espectáculo, para captar a atenção do público, centrou-se no espectáculo do Jogo. O jogo – simulacro da guerra – foi, desde sempre, um comportamento com uma forte descarga fisiológica, que permite ao “Dono do Jogo” controlar os actores e os espectadores. Em Roma, os jogos do circo foram um meio político para apagar as tensões sociais. Assim, assistimos a um crescimento considerável da influência do Jogo: desportos-espectáculo transmitidos em todo o planeta, explosão dos jogos de computador e, em pouco tempo, dos jogos virtuais (cúmulo do simulacro!), multiplicação dos produtos propostos pela “Française des Jeux” e dos “parques de atracções”, etc. Mas, o jogo é, por definição, o domínio do vazio. Não tem nenhum sentido. Uma pechincha para o sistema: “paguem e joguem, paguem e vejam jogar”. Não é por acaso que os estados ocidentais continuam esta Sociedade do Jogo, como fez a Roma decadente da Antiguidade, mas somando a potência do impacto do audiovisual e da informática. Os CD-Rom de jogos, que inundam as classes jovens, excluem as actividades “perigosas”: ler e pensar. O jogo mata estes vírus insuportáveis chamados ideias.

Mas a estratégia parece estar condenada ao fracasso. É a mesma do Big Brother orwelliano de 1984, ou do filme Farenheit 451, em versão soft, evidentemente. Uma sociedade não pode sobreviver muito tempo sem legitimação positiva. Desviar a atenção e infantilizar… Esta estratégia indigente e imbecil apenas pode funcionar por pouco tempo. “Vai jogar e deixa o teu pai em paz”. Privada de verdadeiros discursos e de resultados práticos para resolver os problemas cada vez mais graves, sem objectivos mobilizadores, a ideologia hegemónica não poderá, a longo prazo, sobreviver sobre o vazio e a negatividade, sobre a cultura do insignificante e da entertainment industry.

Guillaume Faye
in “ L'Archéofuturisme” (1998).

CasaPound: mais do que uma inspiração, um modelo

Comparações (II)

"Comparar, não quer evidentemente dizer assimilar: os regimes comparáveis não são necessariamente idênticos, mesmo que certos autores o tenham afirmado no caso do comunismo e do nazismo. Comparar significa colocar junto, para as pensar em conjunto sobre um certo número de relações, duas espécies distintas de um mesmo género, dois fenómenos singulares no interior de uma mesma categoria. Comparar não é, também, banalizar ou relativizar. As vítimas do comunismo não apagam mais as vítimas do nazismo do que as vítimas do nazismo apagam as do comunismo. Não nos podemos apoiar nos crimes de um regime para justificar ou atenuar a importância dos crimes cometidos por outro: os mortes não se anulam, somam-se. Que o comunismo tenha sido ainda mais destruidor que o nazismo, não torna o segundo «preferível» ao primeiro, pois a escolha nunca ficou confinada a uma alternativa entre os dois."

Alain de Benoist
in "Comunismo e Nazismo: 25 reflexões sobre o totalitarismo no século XX (1917-1989)", Hugin Editores (1999)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Os homens não conhecem épocas...

"Para dizer as coisas numa palavra, o desaparecimento da guerra do horizonte da nossa história conduziu em todas as sociedades europeias ao desaparecimento da masculinidade e à irrupção da feminilidade. Tentemos compreender. Um homem não é legitimado na sua virilidade senão pela sua função de protecção e de provimento. Do mesmo modo, uma mulher é antes de tudo legitimada pela reprodução e a perpetuação da vida. Oiço os protestos indignados. E contudo vou agravar o meu caso. Nada mudou desde as primeiras sociedades de clãs caçadores. O homem enquanto arquétipo é sempre o Sr. Cro-magnon cuja mulher e os filhos esperam que traga uma corça para o jantar e que proteja o lar contra os ladrões. Quanto à mulher, ela é sempre a Sr.ª Cro-Magnon, que se arranja para receber o seu homem, dá-lhe belas crianças e mantém viva a chama do lar.

Quando falo do masculino em oposição ao feminino, não penso, contudo, em pessoas particulares entre as quais figuram todas as excepções. Penso em valores e arquétipos. Como escreveu de forma ligeira um psicólogo americano que não havia perdido o juízo (John Gray), os homens e as mulheres vêm de planetas diferentes, os homens de Marte as mulheres de Vénus.

No cinema, mundo de arquétipos, o masculino é incarnado por Jean Gabin, Lino Ventura ou Clint Eastwood. Dão-se bem com o conflito e procuram-no. São silenciosos e firmes. São pais autênticos que sabem punir se necessário."

Dominique Venner
in NRH 37, Julho de 2008

Boletim Evoliano

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Cada época tem os heróis que merece...

"Como é possível definir como «homem de acção» quem, no seu trabalho de gestor, faz cento e vinte telefonemas por dia para vencer a concorrência? É um homem de acção aquele que é louvado porque aumenta os ganhos da própria empresa, viajando para os países subdesenvolvidos e aproveitando-se dos seus habitantes? Na nossa época são geralmente estes vulgares dejectos sociais a serem julgados homens de acção. Atolados nesta sujidade estamos obrigados a assistir à decadência e à morte do modelo de Herói, que exala já um fétido odor."

Yukio Mishima
in "Introduzione alla Filosofia dell'Azione", Feltrinelli, 1990-2006, P.109

A Juventude e o Futuro

"Grande parte da juventude actual parece não acreditar no futuro. Uma desconfiança excessiva leva muitos jovens a separar-se de tudo, a não acreditar em nada. Mas a sua desconfiança quanto ao futuro é uma consequência da sua desconfiança nas velhas gerações que não souberam organizar um mundo melhor. Numerosos jovens nem se dignam pensar se esta organização perfeita é possível. As próprias gerações que os precederam também não pensaram nesta problema.
A juventude é exigente. É uma virtude. Não solicita fórmulas teóricas, mas exige realizações quotidianas. As relações familiares, o entendimento entre os pais e os filhos são difíceis por causa desta flagrante diferença de linguagem.
Uma juventude que desconfia do futuro, que tudo pretende alcançar no tempo presente, será uma juventude sã? A juventude actual está preocupada pelo vazio e pelo absurdo da vida. Mas como poderemos falar de vazio no caso de jovens tão dados à acção, dispostos a ocupar os seus tempos livres e a gozar os prazeres imediatos da vida? Talvez por isso mesmo. Esta necessidade de imediato, esta incapacidade de esperar, provém de um sentimento de angústia. Afinal, a juventude actual carece sobretudo de esperança.
Esta falta de esperança reduz a juventude ao tempo presente. E o presente da juventude actual não está vinculado ao passado nem ao futuro. É tempo presente que tem, forçosamente, de ser vivido com ansiedade e com a ambição de esgotar no momento em que se vive todas as possibilidades vitais. Nesse tempo presente, que se vive rapidamente, tão rapidamente que a própria pressa se transforma em objectivo essencial, o conteúdo da acção perde a sua natureza.
A renúncia perante o futuro é a renúncia da continuidade. Não há nenhum jogo mais perigoso. A pressa é a evasão. Qual é a falha desta estrutura existencial? Falha a vida como continuidade. Falha por não a viver em todo o momento na sua dimensão profunda. Os momentos da vida são mais ou menos incorporados neles, marcas do passado mas também possibilidades do futuro. O passado é a própria história, é a responsabilidade do que somos, é a expressão da vida, é a nossa própria individualidade. No presente podemo-nos identificar mais ou menos com as circunstâncias ou com os outros. O futuro é a continuidade pessoal e histórica.
Pertence ao estilo das actuais gerações viver com pressa e sem profundidade. Renunciar às responsabilidades do passado e desconfiar do futuro, concentrando a vida no presente, dinamicamente vivido, ou seja, na acção. Esta atitude, provocando o desaparecimento do sentido profundo da vida, dá origem a um deserto de tédio.
Entre o aborrecimento e a pressa existem relações importantes. O facto de não saber o que fazer é muito perigoso. Talvez seja o maior perigo mostrar a sombra da vida, a sua orientação absurda. Deste perigo defende-se a juventude pela sua radical afirmação. A vida é vida porque se afirma perante a morte."

Luís Fernandes
in «Agora», n.º 327, pág. 4, 21.10.1967

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Pentti Linkola

Kaarlo Pentti Linkola (nascido a 7 de Dezembro de 1932, em Helsínquia) é um ambientalista radical finlandês que é muitas vezes descrito como defensor de uma espécie de ecofascismo. Escreveu abundantemente sobre as suas ideias e é bem conhecido na Finlândia. Vive uma vida muito simples e trabalha como pescador.

Linkola culpa os humanos pela destruição do ambiente e promove o genocídio como forma de salvar o ecossistema e manter a população sob controlo. Promove a desindustrialização.
Linkola cresceu em Helsínquia, Finlândia. O seu pai Kaarlo Linkola era reitor da Universidade de Helsínquia. Pentti Linkola escolheu não continuar os seus estudos em botânica e zoologia após o primeiro ano. Tornou-se um naturalista livre e desenvolveu o seu gosto pelos pássaros e a sua admiração pela natureza em geral. Durante esses anos, escreveu "Suuri lintukirja" ("Grande Livro de Pássaros") (1955) em conjunto com O. Hilden.
A primeira publicação política de Linkola foi o panfleto "Isänmaan ja ihmisen puolesta" ("Pela Pátria e os Humanos") (1960), no qual defendia uma via pacifista e encorajava a objecção de consciência.
No ensaio "Unelmat paremmasta maailmasta" ("Sonhos sobre um Mundo Melhor") (1971) explicou pela primeira vez as suas atitudes ecologicas. Continuou a falar contra a forma de vida Ocidental e o sobreconsumo dos recursos naturais. Os seus últimos trabalhos "Johdatus 1990-luvun ajatteluun" ("Introdução ao pensamento dos anos 90") (1989) e "Voisiko elämä voittaa" ("Pode a Vida vencer") (2004) são colecções dos seus escritos publicados em vários jornais e revistas finlandeses.
Como filósofo, Linkola pode ser descrito como epiricista biocêntrico. Reclama um regresso do homem a um nicho ecológico mais pequeno e o abandono da tecnologia moderna e da procura pelo crescimento económico. Defende a extinção de gatos e outras espécies que considera estrangeiras e destrutivas para os ecossistemas finlandeses.
Pentti Linkola encontrou grande oposição ao seu criticismo da sociedade Ocidental, mas ganhou um estatuto de guru em alguns círculos, principalmente pelo mérito de viver segundo as suas ideias. Não tem carro nem água corrente. Ganha a vida a pescar e a vender peixe de porta a porta com um cavalo.

sábado, 19 de julho de 2008

A cidade

"Oswald Spengler, em Le Déclin de l'Occident (Gallimard, 1948), traçou de forma infinitamente mais correcta, a evolução da cidade, desde o burgo até à «cidade mundial».
A diferença entre o burgo e a cidade não reside apenas nas suas dimensões. O burgo não se opõe fundamentalmente ao campo. Construído em redor do mercado, ele constitui o ponto de intersecção de um certo número de interesses rurais. Está ligado à terra e depende da «natureza», de que ele adopta os hábitos e os ritmos.
Com a «cidade de cultura», isto é, a cidade tradicional, a natureza encontra-se, pelo contrário, nitidamente dominada, tanto do ponto de vista económico como do ponto de vista político. A cidade transforma-se em pequena sociedade autónoma, em constante evolução em relação ao meio ambiente. Torna-se o sujeito colectivo da hstória dos seus habitantes. A relação entre a cidade e o campo é, então, análogo à relação entre a sociedade e a «natureza». É nisso que as sociedades citadinas são pleneamente históricas, por oposição às sociedades rurais, que são sociedades de repetição. (O campo desempenhando um papel, indispensável, de reserva humana potencial destinada a actualizar-se progressivamente nas cidades — ao mesmo tempo que se efectua a sua própria substituição.)
Mas a «cidade de cultura» em breve se expande. Desdobra-se em arrabaldes que, pouco a pouco, vão absorvendo os meios rurais circundantes. A relação com a natureza deixa de ser dialéctica para passar a ser esterilizante. O mundo rural é esvaziado, sem que tenha tempo de se renovar. Paralelamente, a gestão da cidade torna-se cada vez mais pesada e burocrática. Formas geométricas e cristalizadas substituem-se às formas orgânicas. O anonimato é a regra, encontrando-se o indivíduo desprovido de meios para se situar, de forma perdurável, em relação ao seu próprio meio. É assim que surge a «cidade mundial», submetida, segundo as épocas, ao poder dos tecnocratas ou dos funcionários imperiais. A sua aparição, diz-nos Spengler, corresponde ao estádio da «petrificação» das culturas.
«Estas cidades gigantescas e pouco numerosas», escreve, «banem e matam, em todas as civilizaçãos, sob o conceito de província, e por inteiro, a paisagem que foi a mãe da sua cultura (...). Elas transformam-se na história petrificada de um organismo».
«As cidades mundiais do tempo dos Han e dos índios da dinastia dos Maurya», acrescenta ele, «possuiram as mesmas formas geométricas. As cidades mundiais da civilização euro-americana encontram-se longe de haver atingido o cume da sua evolução. Vejo aproximar-se o tempo em que se construirão cidades urbanas de dez ou vinte milhões de habitantes».
É a este estádio aquele a que chegámos.
Todos os Estados modernos se encontram, hoje, confrontados com o mesmo problema: como canalizar o crescimento das grandes cidades sem prejuficar as exigências da vida social — ou o seu desenvolvimento? Neste domínio, e até agora, tem prevalecido o pragmatismo e a visão a curto prazo. Mas hoje, não é já possível que as cidades continuem a crescer por si próprias. As mais futuristas das propostas não faltam. Mas as soluções não são mais do que uma questão técnica, de planos, e de «metrópoles de equilíbrio». O exemplo de Nova Iorque dá que pensar: o fracasso desta cidade representa o fracasso de um certo modo de organização e de povoamento urbanos."

Alain de Benoist
in "Nova Direita Nova Cultura – Antologia crítica das ideias contemporâneas", Lisboa, Fernando Ribeiro de Mello/Edições Afrodite, 1981

"Tuons le Clair de Lune": Pagãos VS Cristãos

"Tuons le Clair de Lune", todos os domingos, das 22h00 às 23h00 (hora portuguesa), na Radio Bandiera Nera. Em directo do Quebeque.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O poder do dinheiro

"Digo-o há muito tempo. No mundo moderno... Pela primeira vez na história do mundo os poderes espirituais foram todos em conjunto rejeitados não pelos poderes materiais, mas por um poder material único que é poder do dinheiro... Pela primeira vez na história do mundo, o dinheiro é mestre sem limitação nem medida."

Charles Péguy

Se vis pacem, para bellum

"Quem não conhece o antiquíssimo aformismo que diz: «Se queres paz, prepara-te para a guerra.» Se vis pacem, para bellum? No entanto, não bastam apenas os preparativos de guerra para gozar a paz. Para chegar a esta é preciso passar por aquela. A paz conquista-se através da guerra. E a paz verdadeira, a paz interior, no lugar e na consciência, apenas se conquista com a guerra exterior, guerra na rua e na sociedade. Vale mais lutar com a consciência limpa do que viver em paz - paz aparente - com a consciência atormentada ou subjugada."

Miguel de Unamuno

George Sorel (IV)

Nacionais-revolucionários

Sorel terá influenciado Barrès e Péguy tanto como Lenine. Este último, no Matérialisme et Empiriocriticisme, denunciá-lo-á, no entanto, como um «espírito trapalhão».
«Depois da França», observou Alexandre Croix na Révolution Prolétarienne, «a Itália terá sido a 'terra de eleição do sorelismo'». Sorel exerceu ali, aliás, uma grande influência na escola sindicalista dirigida pelo futuro ministro italiano do Trabalho (1920-1921), Arturo Labriola. Este, desde 1903, traduzia L'Avenir Socialiste des Syndicats no Avanguardia de Milão. Um dos seus lugares-tenentes, Enrico Leone, foi quem prefaciou a primeira aparição de Réflexions que surgiu em Itália sob o título Lo Sciopero Generale e la Violenza («A Greve Geral e a Violência»).
A seguir, Sorel teve igualmente influência sobre Vilfredo Pareto, Benedetto Croce, Giovanni Gentile e (através de Hubert Lagardelle), sobre Benito Mussolini.
Na Alemanha, o sorelismo encontra uma espécie de prolongamento nas correntes nacionais-revolucionárias e nacionais-comunistas que se manifestaram nos meados dos anos vinte durante a Weimar. (Cf. Michel Freund, George Sorel, Der Revolutionäre Konservatismus, Vittorio Klostermann, Frankfurt/M., 1932 e 1972.)
Logo que Sorel morreu, em 1922, o monárquico George Valois, em L'Action Française, e o socialista Robert Louzon, em La Vie Ouvrière, renderam-lhe uma homenagem plena da mesma admiração. Algumas semanas mais tarde Mussolini, ao fazer a sua entrada em Roma, declarava a um jornalista espanhol: «É a Sorel que devo quase tudo».
O governo soviético e o Estado fascista propuseram, no mesmo dia, assumir o encargo do seu túmulo.

Alain de Benoist
in "Nova Direita Nova Cultura – Antologia crítica das ideias contemporâneas", Lisboa, Fernando Ribeiro de Mello/Edições Afrodite, 1981

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Stile di vita

"Não há no estilo de vida «fascista» elementos nobres, ou altas virtudes? Entre os valores que o fascismo reabilitou ou criou (...) o desprezo pelo banal e rotineiro; a procura da grandeza; a recusa de um falso idealismo que dissimulado numa moral universal de egoísmos confortáveis; um esforço para pensar a ideia de ordem independente de compromissos burgueses; por fim a certeza que há razões para viver que valem mais que a vida, que merecem sacrifícios."

Henri Massis
in "Chefs. Les dictatures et nous. Entretiens avec Mussolini, Salazar, Franco", Paris, Plon, 1939

Na desmarcação

quarta-feira, 16 de julho de 2008

RBN Canadá: "Leni Riefensthal - La sua Afrika"

A emissão desta semana é dedicada à África de Leni Riefensthal; depois de uma breve retrospectiva sobre o trabalho da actriz, fotógrafa e realizadora germânica, o programa centrar-se-á nos Nuba, povo guerreiro que se tornou o objectivo desta Mulher, que passou intocada (ou melhor, triunfante) ao sufrágio histórico.

"RBN Canadá", todas as quintas-feiras, das 12h00 às 14h00 (hora portuguesa), na Radio Bandiera Nera. Em directo do Canadá.

Vão enchendo a bolsa

"Assentemos por huma vez que nunca o Povo se diz Soberano para outro fim mais do que para cahir toda a Soberania nas mãos de hum punhado de aventureiros, que desta arte lhe fazem a boca doce, em quanto mui a salvo, e a despeito da moral christã, e dos principios mais vulgares da decencia, vão enchendo a bolsa."

D. Fr. Fortunato de S. Boaventura
in O Punhal dos Corcundas, Lisboa, 1824.

Portugal a saque

Há poucas semanas foram os confrontos na praia de Santo Amaro de Oeiras, que obrigaram à actuação de 3 equipas da brigada de intervenção rápida da PSP. Alguns frequentadores e trabalhadores da praia disseram aos jornalistas, de cara tapada, com medo, que o que ali se passara era relativamente frequente.

Agora, um bairro de Loures a fazer lembrar um qualquer teatro de guerra urbana, com confrontos armados entre milícias étnicas.

No jornal “24 Horas” noticia-se que a polícia escondeu da opinião pública um outro tiroteio na Amadora.

Por outro lado, aos jornalistas é dito que não devem indicar a etnia dos criminosos.

Não ficamos surpreendidos com as ocultações, são habituais, e são as ordens que vêm de cima, do poder político. O objectivo é que os portugueses não conheçam as consequências reais da imigração, porque no mundo de hoje o que não é notícia não existe. Os criminosos, diz-nos a comunicação social, são sempre uns "jovens". A humanidade não tem, aliás, memória de uma juventude assim...

O denominador comum a estes casos, como à maioria dessa criminalidade urbana e violenta de cariz grupal é a população imigrante, em particular a africana. Esta é uma verdade bem conhecida de todos os que já viveram “in loco” estes problemas, mas é também uma verdade proibida, que não pode ser dita, porque ela coloca em causa o sagrado dogma da bondade da imigração e da igualdade dos povos.

Rodrigo N.P.
bf_europa@yahoo.com

Quem diz a verdade não merece castigo

terça-feira, 15 de julho de 2008

A água é um bem de todos

No último ano, em Ascoli, verificou-se uma falta de água sem precedentes que originou o racionamento generalizado e em alguns casos o corte de água nas horas nocturnas. Para não falar das fontes encerradas de modo permanente há um ano e meio.
Se de um lado o cidadão, que contribui para os serviço com os seus impostos e pagamentos é obrigado a apertar o cinto, do outro há a notícia que a água das canalizações está a ser desviada do aqueduto público para comercialização.
Agora basta! CasaPound Itália Ascoli Piceno decidiu lançar uma campanha pacífica de sensibilização dos cidadãos colocando cartazes nas fontes públicas da cidade, na sua maioria encerradas. Cidadãos e turistas são obrigados a fazer fila vergonhosamente enquanto os carteiristas privados aumentam os lucros.
A água é um bem comum, deve por isso permanecer pública!
Não à privatização!
Não aos especuladores!

Casa Pound Ascoli Piceno

Chega de escumalha!


Os portugueses tiveram hoje a oportunidade de ver nos telejornais uma cena bem elucidativa do estado de não-direito que se vive em diversos bairros problemáticos das principais cidades de Portugal.
Nada do que se viu é novidade ou inédito a não ser o facto de ter sido em pleno dia e registado em imagens.
Assim, os portugueses podem ver com os seus olhos o que são os tão apregoados “benefícios” da imigração, bem como a bomba-relógio resultante dos gangues surgidos a partir dessa tal imigração tão “vantajosa”.
Desta vez, e já que as imagens não permitem eufemismos ou branqueamentos, os portugueses puderam constatar que as ruas do nosso país são palco de tiroteios - que fazem lembrar Bagdade ou a Faixa de Gaza - entre grupos de pretos e de ciganos e não de “jovens” ou de “indivíduos”.
Portugal não pode permitir estes níveis de criminalidade organizada e fortemente armada, que põe em causa – quotidianamente – a segurança dos portugueses.
Só com as políticas defendidas pelo PNR no que respeita à imigração, nacionalidade, segurança e justiça, se pode inverter esta situação que se agrava a cada dia que passa.
O PNR, cada vez faz mais falta a Portugal!
Façam boa viagem!

Comissão Política Nacional
11 de Julho de 2008

sábado, 12 de julho de 2008

Nem esquerda nem direita (Dissidência!)

O lúcido pensador italiano Marcello Veneziani começa um belo artigo sobre o antiglobalismo com a seguinte observação: "Se olharmos bem para eles, os anti-G8 são a esquerda em movimento: anarquistas, marxistas, radicais, católicos rebeldes ou progressistas, pacifistas, verdes, revolucionários. Centros sociais, bandeiras vermelhas. Com o complemento iconográfico de Marcos e do Che Guevara.

Imediatamente nos damos conta de que nenhum deles põe em causa o Dogma Global, a interdependência dos povos e das culturas, o melting pot e a sociedade multirracial, o fim das pátrias. São internacionalistas, humanitários, ecumenistas, globalistas. E a acrescentar a isso: quanto mais extremistas e violentos são, mais internacionalistas e anti-tradicionais se tornam".[1]

Posto isto, a oposição da esquerda à globalização é só uma postura que se esgota numa manifestação. Seattle, Génova, Nova Iorque, Porto Alegre, e acabou, "o mundo continua" como dizia Discepolin. É que a política do "progressismo", como bem observou o filósofo, também italiano, Massimo Cacciari, ordena os problemas mas não os resolve.[2]

Do mesmo se queixa o sociólogo marxista mais importante da América Latina, Heinz Dieterich Steffan, que num recente artigo refere: "Se a tarefa actual de todo o indivíduo anticapitalista é absolutamente clara: Porque é que a "esquerda" e os seus intelectuais não a assumem? Porque repetem, fórum após fórum, a mesma lengalenga sobre a maldade do neo-liberalismo e se contentam com as suas ritualizadas propostas terapêuticas inspiradas em Keynes, Tobin y Stiglitz? Porque não convertem a realidade capitalista em objecto de transformação anti-sistema, em vez de a manterem como muro de lamentações?".[3]

O fracasso rotundo da esquerda, hoje rebaptizada de "progressismo", é que, além de não ter compreendido – deglutido será o termo exacto – a derrota do "socialismo real" com a implosão soviética e com a queda do Muro, não reelaborou as suas categorias de leitura, e permanece enclausurada no mundo categorial de Marx, Engels, Lenin, Rosa Luxemburgo e eventualmente Trotsky, fazendo arqueologia política.

A escola neo-marxista de Frankfurt, através dos esforços de Adorno, Apel, Cohen e Marcuse, termina com o publicitado Habermas e a sua teoria do consenso (sem se aperceber que o consenso sempre foi o dos poderosos entre si), e os seus discípulos James Bohman e Leo Avritzer com a sua teoria da democracia deliberativa, que como um novo nominalismo pretende resolver as injustiças políticas, económicas e sociais com palavras. Conversando numa espécie de assembleísmo permanente.

Se a esquerda está liquidada, o que dizer da direita? Pode-se esperar algo dela?
Da direita clássica, tanto do nacionalismo orgânico ou integral ao estilo de Charles Maurras, como do fascista de Mussolini ou do católico de Oliveira Salazar pouco permanece. Só trabalhos de investigação históricos e pequenos grupos políticos sem peso nas suas sociedades respectivas.

Resta então como direita o neoconservadorismo norte-americano e dos governos que lhe são afins. E desta direita liberal, a única que existe com peso político, só se pode esperar que as coisas piorem para a saúde e bem-estar dos povos.

Se isto é assim, denunciamos uma vez mais, de entre as centenas de vezes que o tentámos demonstrar, que a dicotomia esquerda/direita é estreita, para não dizer falsa, para fazer uma leitura adequada da realidade.

Hoje situar-se à esquerda ou à direita é não situar-se, é colocar-se num não-lugar, sobretudo para o pensador (recuso terminantemente o termo intelectual) que pretende elaborar um pensamento crítico. E o único método que hoje pode criar pensamento crítico é a dissidência. Dissidência não só com o pensamento único e politicamente correcto mas também e sobretudo, com a ordem constituída, com o status quo vigente.

A dissidência é estruturalmente uma categoria do pensamento popular, tal como o consenso, que, como vimos, é uma apropriação da esquerda progressista para alcançar a democracia deliberativa que tem muito de ilustrada, e também, ainda que noutro sentido, propriedade do liberalismo como acordo dos que decidem, dos poderosos (G8, Davos, FMI, Comissão Trilateral, Bilderberg, etc.).

A dissidência que se manifesta como negação tem distinto sentido no pensamento popular e no pensamento culto. Neste último, regido pela lógica da afirmação, a negação nega a existência de algo ou alguém, enquanto que no pensamento popular o que se nega não é a existência de algo ou alguém, mas antes a sua vigência. A vigência pode ser entendida como validez, como sentido. A dissidência nega o monopólio da produtividade de sentido dos grupos ou lobbies, para reservá-la ao povo no seu conjunto, para lá da partidocracia política.

A alternativa hoje é situar-se para além da esquerda e da direita. Consiste em pensar a partir de uma raiz, do nosso genius loci nas palavras de Virgílio. E não uma raiz qualquer, mas a das identidades nacionais, que formam os ecúmenos culturais ou regiões que constituem hoje o mundo. Com isto vamos para além inclusive da ideia de estado-nação, em vias de esgotamento, para penetrarmos na ideia política de grande espaço etnocultural.

É a partir destas grandes regiões que é lícito e eficaz posicionar o combate à globalização, ou americanização do mundo. Fazê-lo como pretende o progressismo: a partir do humanismo internacional dos direitos humanos, ou desde o ecumenismo religioso como ingenuamente pretendem alguns cristãos, é fazê-lo a partir de mais um universalismo. Com a agravante que o seu conteúdo encerra um aspecto laudatório, mas vazio, inverosímil e não eficaz na hora do confronto político.

Todavia este confronto está, ainda assim, a acontecer, apesar do fracasso dos pensadores em entendê-lo, através do surgimento dos diferentes populismos, que não obstante os reparos que apresentam a qualquer espírito crítico, estão a modificar, como observa Robert de Herte[4] as categorias de leitura. Assim, a oposição da esquerda clássica entre burgueses e proletários vai sendo substituída pela de povo vs. oligarquias, sobretudo financeiras, e a de esquerda e direita, pela de justiça e segurança.

Ora, do ponto de vista da esquerda progressista a crítica à globalização limita-se à não extensão dos benefícios económicos à humanidade, mas apenas a uns poucos, pois a esquerda, pelo seu carácter internacionalista não pode denunciar o efeito destruidor sobre as culturas tradicionais e sobre as identidades dos povos. A sua denúncia transforma-se assim numa reclamação formal para que a globalização esteja unida aos direitos humanos.

Em sentido contrário, é a partir dos movimentos populares que se realiza a oposição real às oligarquias transnacionais.[5] É a partir das tradições nacionais dos povos que melhor se demonstra a oposição à sociedade global sem raízes, a esse imperialismo desterritorializado de que falam Hardt e Negri. É com base na atitude não conformista que se rechaça a imposição de um pensamento único e de uma sociedade uniforme, e se denuncia a globalização como um mal em si mesmo.

O pensamento popular, quando o é de facto, parte das suas próprias raízes, não tem um saber livresco ou ilustrado. Pensa a partir de uma tradição, que é a única forma de pensar genuinamente, segundo Alasdair MacIntyre[6], dado que "uma tradição viva é uma discussão historicamente desenvolvida e socialmente encarnada". Pelo que se torna impossível aos povos e aos homens que os encarnam situarem-se fora da sua tradição. Quando o fazem desnaturalizam-se, deixam de ser o que são. São já outra coisa.

Alberto Buela
________________________________________
[1] O antiglobalismo de direita. Marcello Veneziani (1955). Jornalista do Giornale e do Menssaggero e colaborador com a RAI, é autor de vários ensaios entre os quais se destacam: La rivoluzione conservatrice in Italia (1994), Processo all´Occidente (1990) y L´Antinovecento (1996). Podemo-lo incluir dentro da corrente de pensamento não-conformista.

[2] Massimo Cacciari (1944). Filósofo, deputado do PC. Presidente do Município de Veneza até 1993. Autor de vários ensaios: L´Angelo necesario (1986), Dell´Inicio (1990), Dran: Meridianos de la decisión en el pensamiento contemporáneo (1992), Geo-filosofia dell´Europa (1995). Pensador dissidente da esquerda europeia.
[3] La bancarrota de la izquierda y sus intelectuales (31-3-04). Heinz Dieterich Steffan, é sociólogo e professor na UNAM do México e colunista do diário El Universal. Promotor itinerante em todos os países da América de um novo projecto histórico do marxismo. É autor de uma trintena de livros entre os quais se destacam: El fin Del capitalismo global (1999) y La crisis de los intelectuales en América Latina (2003)

[4] Robert de Herte é o pseudónimo de Alain de Benoist (1943). Editor das revistas Eléments y Krisis e autor de inumeráveis trabalhos entre os quais devemos recordar Vu du droite (1977), Orientations pour des années décisives (1982), L´empire intérieur (1995), Au-dela des droits de l´homme (2004). É o mais importante pensador de uma corrente de pensamento não conformista, alternativa e anti-igualitarista, onde se destacam, entre outros, Guillaume Faye, Robert Steuckers, Julien Freund, Alessandro Campi, Claude Karnoouh, Tarmo Kunnas, Thomas Molnar, Dominique Venner, Pierre Vial, Javier Esparza, Giorgio Locchi, etc.

[5] Sobre a relação entre pensamento popular e negação pode-se consultar com proveito o livro La negación en el pensamiento popular (1975) do filósofo argentino Rodolfo Kusch (1922-1979), assim como o nosso trabalho: Papeles de un seminario sobre G. R. Kusch (2000). Entre os não poucos filósofos originários da Argentina (Taborda, de Anquín, Guerrero, Cossio, Rougés) Gunther Rodolfo Kusch ocupa um lugar destacado. Não só pela originalidade dos seus posicionamentos filosóficos mas principalmente porque os mesmos geraram uma corrente de pensamento através da denominada filosofia da libertação no seu ramo popular.

[6] Alasdaire MacIntyre (1929) é um filósofo escocês que vive e ensina nos Estados Unidos e que se destacou pela sua crítica à situação moral, política e social criada pelo liberalismo. Os seus trabalhos são a base de todo o pensamento comunitarista norte-americano. Os seus livros mais destacáveis são: After Virtue (1981), Whose Justice? Which Rationality? (1988), Three rival versions of moral enquiry (1990).

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Cinema Puccini ocupado

Nova ocupação em Roma, em Casal Bertone. Esta manhã, jovens da associação de promoção social "Spacium Nostrum" (um dos ramos do Circulo Futurista Casal Bertone), em colaboração com o "Circolo Riformista e delle Liberta", ocuparam o cinema Puccini. Apesar das diferenças políticas entre as tuas associações, depois de quarenta anos de abandono, degradação e falsas promessas eleitoralistas, os jovens do bairro colocaram mãos à obra para requalificar o espaço. No projecto inicial está prevista a abertura de um jardim e um canil, disponíveis para todos os habitantes do bairro, independentemente da orientação política. Mais fotografias no sítio da ocupação.

A figura do trabalhador

"Visto na plenitude do seu ser, e na violência de um cunho que apenas começou, a figura do trabalhador aparece em si rica em contradições, tensões e, no entanto, de uma espantosa unidade e completude em relação ao destino. Ela ser-nos-á assim manifesta, de vez em quando, em instantes em que nenhum fim e nenhuma intenção perturbe a meditação - como poder subjacente e pré-formado.
É assim que, por vezes, quando de repente a tempestade dos martelos e das rodas que nos rodeia se silencia, a tranquilidade que se esconde atrás da desmedida do movimento parece contrariar-nos quase corporalmente, e é bom o costume que no nosso tempo, para honrar os mortos ou para gravar na consciência um instante de significado histórico, declara suspenso o trabalho por um intervalo de minutos, como por um comando supremo. Pois este movimento é uma alegoria da força mais íntima, no sentido em que o significado misterioso de um animal se manifesta o mais claramente possível no seu movimento. Mas o espanto sobre a sua suspensão e, no fundo, o espanto por o ouvido julgar perceber, por um instante, as fontes mais profundas que alimentam o curso temporal do movimento, e isso eleva este acto a uma dignidade de culto.
O que distingue as grandes escolas do progresso é faltar-lhes a relação às forças originárias e a sua dinâmica ser fundada no curso temporal do movimento. Tal é a razão pela qual as suas conclusões, sendo e si persuasoras, estão não obstante condenadas, como por uma matemática diabólica, a desembocar no niilismo. Experimentámos isto nós mesmos na medida em que tomámos parte no progresso e assumimos, como a grande tarefa de uma estirpe que vivia há muito numa paisagem originária, voltar a produzir o vínculo imediato com a realidade.
A relação do progresso com a realidade é de uma natureza derivada. Aquilo que é visto é a projecção da realidade na periferia do fenómeno; tal pode-se mostrar em todos os grandes sistemas do progresso e vale também para a sua relação ao trabalhador.
E, no entanto, do mesmo modo que o iluminismo é mais profundo que o iluminismo, também o progresso não está sem pano de fundo. Também ele conheceu aqueles instantes de que precisamente se falou.. Há uma embriaguez do conhecimento que é mais do que de origem lógica, e há um orgulho nas proezas técnicas, no começo do domínio ilimitado sobre o espaço, que possui uma suspeita da mais misteriosa vontade de poder, para a qual tudo isto é apenas um armamento para combates e rebeliões insuspeitados, e precisamente por isso tão valioso e necessitado de um cuidado ainda mais afectuoso do que o que um guerreiro dedica às suas armas.
Daí que para nós esteja fora de questão aquela atitude que procura contrapor ao progresso os meios inferiores da ironia romântica e que é a característica segura de uma vida enfraquecida no seu núcleo. A nossa tarefa não é ser o adversário do tempo, mas a sua última cartada, cuja entrada em acção deve ser concebida tanto na sua extensão como na sua profundidade. O pormenor que tão vincadamente os nossos pais iluminaram muda o seu significado quando é visto numa imagem maior. O prolongamento de um caminho que parecia conduzir à comodidade e à segurança entra doravante na zona daquilo que é perigoso. Neste sentido, o trabalhador, para além do pormenor que o progresso lhe assinalou, aparece como o portador da substância heróica fundamental que determina uma nova vida."

Ernst Jünger
in "O Trabalhador", Hugin, 2000

Nossas bandeiras

quinta-feira, 10 de julho de 2008

A diferença entre o ouro e o dinheiro

"O Ocidente funda-se na propriedade da terra, já que a nossa civilização e todo o mundo ocidental derivam do solo e da responsabilidade primordial e total do homem que produz a partir do solo.
Está tudo muito confuso?
Não, não há confusão enquanto os homens continuarem a assumir a responsabilidade de se alimentarem a si mesmos e de alimentarem as suas famílias com o que coneseguem tirar da terra, semeando, fazendo amadurecer e colhendo, cuidando do gado.
Esta responsabilidade implica também não permitir que as vacas comam toda a erva do campo, já que uma parte deve ser armazenada como forragem para as alimentar durante o Inverno.
Mas nem todo o capital deste nosso desordenado mundo é resultado do trabalho.
O homem da rua traz na cabeça uma grande confusão, não apenas no que se refere ao dinheiro, mas também no que diz respeito ao ouro.
O ouro é produto de trabalho.
(...) Não se trata de carneiros e ovelhas. Não são amibas, como diz Shakespeare, quando avisa que o ouro não está vivo. Não se multiplica como os carneiros ou as ovelhas de um rebanho.
Plante-se e vejamos se brota na primavera com vinte, trinta, cem espigas.
O dinheiro não tem o menor interesse se não significar alguma coisa além de esterilidade.
O dinheiro não interessa se não representar, precisamente, qualquer coisa parecida com carneiros e ovelhas.
Desde a pré-história, a diferença entre o dinheiro e o metal sempre confundiu os homens.
O conceito de juro já existia antes da cunhagem de moedas metálicas. É muito mais justificado um juro sobre um empréstimo de sementes, sobre um empréstimo de carneiros e ovelhas, que sobre um empréstimo de metal não prolífico e não prolificável."

Ezra Pound
in "Esta é a voz da Europa", Hugin, 1996.

O mundo moderno

"O mundo moderno degrada. Degrada a cidade. Degrada o homem. Degrada o amor; degrada a mulher. Degrada a raça; degrada a criança. Degrada a nação; degrada a família. Degrada mesmo, teve êxito a degradar o que pode parecer mais difícil degradar no mundo; degrada a morte."

Charles Péguy

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Não parar até conquistar

RBN Canadá

Transmitido em directo a partir do Canadá, o programa RBN Canadá oferece um misto de informação, formação, metapolítica e arte. Combinando o ponto de vista político com a realidade italiana e europeia, a emissão - em italiano - está a cargo de Dj Zombina, cujos gostos musicais atravessam a cena Oi!, o punkrock, passando pelo metal, folk e industrial. Da História ao animalismo, do hardcore à música alternativa, o programa RBN Canadá tentará agradar ao gosto dos ouvintes, mas sobretudo manter uma postura inconformista.

Esta semana: o jogo, o homem, o azar. A sua natureza está ligada há milénios. Mas o que leva o homem ao azar e quando se torna o jogo numa doença? Videopoker, casino, raspadinha; compulsividade de uma sociedade moderna, atomizada e alienada ao efémero.

"RBN Canadá", todas as quintas-feiras, das 12h00 às 14h00 (hora portuguesa), na Radio Bandiera Nera. Em directo do Canadá.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Degrelle

"Não devemos hoje chorar pela vitória da Europa. Durante anos a Europa esteve em pecado mortal e hoje paga os seus crimes. Ela chegou ao ponto de ter de perguntar-se se salvará a sua civilização, se sobreviverá, ou se a barbárie a afundará. Esta é a angústia de todos os soldados da frente…

Chegámos ao momento no qual todos os entraves da Europa de ontem, da Europa das guerras civis, caíram. Ou bem que os povos reencontram nas suas veias a grande força da juventude, o espírito de sacrifício e da grandeza e formam um bloco socialista e revolucionário; ou bem que conservam a sua esterilidade e decadência que já não compreendem nada…"

Léon Degrelle
Paris, 5 de Março de 1944.

A Comédia

"Só Povo, e nada mais que Povo, porque no Povo ha duas cousas que se não podem unir, e que os reformadores do Mundo dizem que as encontram unidas, e inseparaveis: Soberania e Obediencia passiva. O Povo impéra, e he Soberano; o mesmo Povo obedece, e he vassallo. E de quem he o Povo vassallo, quando não he Soberano? Temos a Comedia, he o Amo, e he o creado deste mesmo Amo."

José Agostinho de Macedo
in O Desengano, nº 16, pág. 6.

Na crista da onda

segunda-feira, 7 de julho de 2008

George Sorel (III)

O nome da velha Antioquia

A partir de 1907 George Sorel faz-se artesão de uma aproximação entra anti-democratas de esquerda e de direita. O órgão desta aproximação é a Reuve Critique des Idées et des Livres, onde o nacionalista George Valois publica os resultados do seu inquérito sobre La Monarchie et la Classe Ouvrière.
Em 1910 surge a revista La Cité Française. Depois, de 1911 a 1913, L'Indépendence. Aí se encontram as assinaturas de George Sorel, Jean Variot, Edouard Berth, Daniel Halévy, mas também dos irmãos Tharaud, de René Benjamin, Maurice Barrès e de Paul Bourget.
Em 1913, o jornalista Edouard Berth, autor de Méfaits des Intellectuels, saúda, em Maurras e em Sorel, «os mestres da regeneração francesa e europeia». Mas, em Setembro de 1914, Sorel escreve-lhe: «Entramos numa era que bem poderia ser caracterizada pelo nome de Velha Antioquia. Renan descreveu muito bem esta metrópole de cortesãos, charlatães e mercadores. Em breve teremos o prazer de ver Maurras condenado pelo Vaticano, o que será a justa punição das suas afrontas. Aliás a que poderia realmente corresponder um partido realista numa França unicamente ocupada em desfrutar a vida fácil de Antioquia?».
«A Maurras», explica o sociólogo Gaëtham Pirou, «Sorel reprovava o ser demasiado democrático, censura que, à primeira vista, pode parecer paradoxal. Na realidade o que Sorel queria dizer é que Maurras, positivista e intelectualista, não tinha repudiado a democracia senão sob o seu aspecto político e não no seu fundamento filosófico (George, Sorel, Marcel Rivière, 1927).

Alain de Benoist
in "Nova Direita Nova Cultura – Antologia crítica das ideias contemporâneas", Lisboa, Fernando Ribeiro de Mello/Edições Afrodite, 1981

domingo, 6 de julho de 2008

Única resposta à modernidade angustiante

"De uma forma ou outra, os descendentes do Iluminismo defendem a abolição das fronteiras, a deterioração e desaparecimento das civilizações e das culturas que fizeram a diversidade do elemento humano. Colocam as suas esperanças na vocação única da humanidade, na difusão de uma mensagem universal e negam o risco de conflito com os que recusam esta mensagem. Não vêem nos homens nada mais que unidades manipuláveis que obedecem a uma só lei, a uma só moral planetária, na sequência de um curso de educação global, de uma pedagogia correctora, ou mesmo de uma homogenização-normalização forçada, se necessário. Segundo eles, a afirmação das identidades colectivas conduziriam quase irresistivelmente ao renascimento dos ódios e das intolerâncias. No entanto, o anti-conformista constata que foi a negação da identidade colectiva, representada durante século XX pelo liberalismo e marxismo, que produziu o seu regresso sob formas patológicas e destrutivas. A procura da identidade, a redescoberta de si através da cultura, a defesa dos grupos, associações, classes, nações, raças e religiões, longe de confinar à barbárie como pretende o hiper-individualismo cosmopolita, constitui de acordo com o pensamento não-conformista a única resposta à modernidade angustiante e desestruturante."

Arnaud Imatz
in "Par delà droite et gauche. Permanence et évolution des idéaux et des valeurs non-conformistes", Paris, Godefroy de Bouillon, 1996

"Tuons le Clair de Lune"

"Tuons le Clair de Lune", das 22h00 às 23h00 (hora portuguesa), na Radio Bandiera Nera. Em directo do Quebeque.

sábado, 5 de julho de 2008

Uma resposta breve ao Corcunda

Diz o Corcunda, sobre o meu texto “A Revolução contra a Contra-Revolução”:

«Há uns tempos no blogue Inconformista, Rodrigo N. P., publicou um artigo que falava sobre o Nacionalismo e a Direita Anti-Revolucionária. É quase um manual para o nacionalista de hoje, moderníssimo (ultra-moderno, aliás) que corta a direito e vai directo às preocupações do homem actual. Caminha no sentido da actualidade em todos os sentidos, incluindo na superficialização de conceitos e na incapacidade de alcançar sentidos nas palavras que ultrapassem a superficialidade momentânea.»

Situo-me na actualidade e falo para o homem actual, o que é diferente de me situar na modernidade e de falar para o homem moderno. A forma como o homem se relaciona com o mundo é sempre um produto da sua biologia, do seu tempo e do seu espaço. Esta minha posição reafirma a rejeição do espírito sem matéria, do homem a-histórico e do homem universal.

O que fiz foi precisamente o contrário de uma superficialização, foi uma clarificação de conceitos, redireccionando a Nação para o seu sentido originário, o de uma comunidade de raça. Nação provém etimologicamente do latim “nationem” que designava aqueles que nasciam no seio de um mesmo povo, de uma mesma etnia. Trata-se primeiramente de um conceito biológico, não de uma "comunidade de valores”. A adulteração do conceito de Nação para significar a comunidade jurídica política é o que acorrenta a Nação à Modernidade, é aí que reside a rendição da Nação à vontade dos triunfadores da História.


«O Nacionalismo (como apanhou bem o GdR) a que o autor se refere, corresponde a uma situação em que a adesão política vai para a comunidade, independentemente do que esta defende e acima de toda a actividade especulativa. Se não existe Nação numa situação em que a comunidade se articula em torno de valores exteriores a si, ficamos a saber que Portugal nasce com a I República e que até então seria uma outra coisa qualquer. Isto já diz muito sobre esta forma de nacionalismo.»

É evidente que o nacionalismo corresponde a uma situação em que a adesão política vai para a comunidade - enquanto Nação - mas para se compreender verdadeiramente isso é imprescindível ter presente a distinção entre Estado e Nação, porque quando dizemos que o nacionalismo significa aquilo, estamos a afirmar que o nacionalismo é, antes de mais, a defesa da identidade nacional (o que, como já vimos atrás, implica a defesa da estirpe).

Daqui resulta que se o Estado actuar contra a identidade da Nação, é necessidade imperativa do nacionalismo ter esse Estado por adversário. Da mesma forma, se o Estado decidir proceder a um acto hostil contra outra comunidade, na exacta medida em que essa acção não aja em defesa da identidade nacional, ela não pode vincular o nacionalismo.

É particularmente engraçada a conclusão de que se a comunidade não se articular em torno de “valores exteriores a si” Portugal nasceria com a I Republica. Ora, este raciocínio é uma prova da minha razão, porque quem assim fala não compreende a diferença entre o Estado e a Nação; a ruptura que a I República impôs foi no âmbito do Estado, não da Nação. A mesma Nação existiu depois da I República como antes dela.

Pelo contrário, é o Corcunda que, ao pretender que a “Nação” apenas tivesse sentido ao serviço daquela fantasia dos “valores exteriores”, vem pousar para esse retrato, porque é precisamente esse delírio que permitiria proclamar o fim da “Nação” com o advento da I República.

«Depois vem uma enorme confusão. Diz o Rodrigo N. que o Contra-Revolucionário luta por uma comunidade jurídica e que o nacionalismo que perfilha se guia por um critério histórico. Se este erro é comum, não é certamente menos disparatado. Ao longo de toda a Época Medieval não existiu qualquer teoria que tenha defendido a defesa do Rei ou da comunidade política apenas por esta ser a sua. Pelo contrário, a filosofia política medieval supreende o homem moderno pelo seu constante apelo a critérios que são extra-jurídicos.»

Eu falei em Contra-Revolução e o Corcunda responde com a teoria política da Idade Média. Ainda que essa época possa ser uma espécie de “nec plus ultra” para os contra-revolucionários, a verdade é que estes se situam num outro tempo e confrontados com outra realidade, mesmo no que concerne aos conceitos políticos, porque o contra-revolucionário existe depois do triunfo da Revolução. O que o Corcunda escreve não nega em nada o que eu disse, porque para o efeito é redundante saber se a inspiração medieval do contra-revolucionário apela a supostos critérios extra-juridicos. A questão é que se a Contra-Revolução coloca o Estado, ou o jurídico, ao serviço desse pretenso extra-jurídico isso não altera o facto de ser esse jurídico, essa realidade contratual delimitada pelo Rei ou pelo Estado, aquilo que ele considera Nação.

« A comunidade jurídica deve existir porque serve finalidades que são maiores que a própria e o Direito serve para as proteger. Ninguém diz “defende o teu Rei ou o teu país porque eles são o teu Rei e o teu país”, mas tenta munir o homem de critérios para que encontre a acção justa (saber que Rei servir vem da capacidade de compreender a melhor ordem política). Ora quem usa esse argumento são precisamente os defensores da modernidade que dizem “o que é justo é aquilo que a comunidade ou o Rei te dizem”. Muitos até dizem que isso é ser contra o “abstracionismo universalista”...»

Antes de mais impor-se-ia saber quem é que determina que a comunidade só deve existir se servir finalidades maiores que a própria, e que finalidades são essas… Por outro lado, não é verdade que o nacionalismo defina o que é justo por aquilo que o Rei ou o Estado determinam, e já o explicámos atrás, porque, se assim fosse, ao nacionalismo não seria possível declarar o Estado ou o Rei como adversos. Mas a questão é mais vasta, porque até agora explicámos que esse confronto com o Estado seria despoletado pela acção deste contra a identidade nacional. Ora, é claro que os critérios de justiça existem para além dessa situação, portanto o fundamental é compreender que a ideia do que é justo dispensa os tais “valores exteriores” bíblicos a que o Corcunda a pretende amarrar, e negar isso é inaceitável, pois significa colocar um risco por cima das raízes da Europa, que se prolongam por todo o mundo indo-europeu até à Antiguidade Clássica. É ignorar que antes do surgimento de qualquer cristão já a Europa pensava o bom, o belo e o justo, e em função disso organizava as suas comunidades, mas pensava-os a partir de um critério que não é Revelado, porque isso é uma tradição forânea ao espírito europeu.

«Todos percebem o que o autor quer com isto e a confusão desemboca onde todos (menos o autor do escrito) já perceberam irá dar. Se o “verdadeiro nacionalismo” está acima da especulação, não se percebe qual é o critério acima do jurídico ( que expressa a vontade da comunidade) que poderá ser “histórico e étnico”. Há uma inconsistência grave e elementar em todos os que dizem que a comunidade é o critério e depois desatam a dar-lhe os seus critérios. Se assim fosse, não deveria o RNP aceitar os critérios que lhe são dados pela presente comunidade e aceitar as suas leis (a imigração p.ex.)? A não ser que se encontre inserido noutra comunidade, mas isso de comunidades imaginadas é um instrumento de poder, como dizia o Anderson. Habitar comunidades imaginadas e falar contra a abstracção é caso estranho.»

Porque a Nação é um dado histórico e étnico ela distingue-se do jurídico. O jurídico, que é de facto expressão de uma vontade, deve servir, na forma nacionalista, a necessária preservação da identidade nacional e o aperfeiçoamento da Nação. Assim, é evidente que o nacionalismo não poderia aceitar os critérios dados pela presente comunidade política, porque eles, logo à partida, são atentatórios da própria defesa da estirpe (pela imigração, por exemplo).

Note-se que a forma como eu e o Corcunda nos colocamos perante o Estado é perfeitamente reveladora do que ambos somos politicamente:

Para o Corcunda este Estado é indigno porque não se encontra ao serviço dos tais "valores externos" e do seu projecto de universalização. O que o Corcunda rejeita não é a coincidência da Nação com a comunidade política delineada pelo Estado, mas sim a falta de sentido em que o Estado vive mergulhado por não obedecer ao seu “critério exterior”.

Para mim, este Estado é indigno porque não está ordenado a partir do princípio de salvaguarda e elevação da identidade nacional, que é o princípio que legitima os Estados que são boa expressão das Nações. O Estado não é algo de irrelevante para a Nação, é uma entidade diferente, e que, quando saudável, tem um importante papel de reforço da consciência que a Nação tem de si, mas precisamente porque são entidades diferentes, a defesa da Nação pode exigir a refundação do Estado - da mesma forma que o sucesso do Estado anti-nacional pode depender da destruição da identidade étnica da comunidade.

Rodrigo N.P.
bf_europa@yahoo.com

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Resistir ao poder do dinheiro

"O carlismo popular sob a monarquia burguesa, a tentação cesarista sob o Império, a agitação boulangista e nacionalista ao virar do século, a Acção Francesa nos seus inícios, o «socialismo fascista» no entre-guerras, o gaulismo no pós-guerra, como algumas alianças eleitorais do tempo presente, demonstram-no: O encontro de uma parte do mundo do trabalho com a tradição nacional populista, mesmo se parcial e mais ou menos efémero, não o é menos uma realidade recorrente da França e da Europa contemporâneas. A chave desta realidade reside em boa medida na aptidão do socialismo nacional para descrever e denunciar sem complacência a maldição do Ouro, a punição dos invejosos, a corrupção dos valores, a folia dos medíocres, o ridículo e o egoísmo sórdido dos novos ricos. «Resistimos ao poder do dinheiro pelo que temos de tradicional, enquanto filhos de uma raça, crentes de uma religião, homens de uma terra, artistas ignorados – escreve Abel Bonnard. É por isso que os financeiros detestam instintivamente tudo o que impede os homens de serem absolutamente iguais. Eles não queriam estar preocupados senão com a vaidade humana».

Para Proudhon, Sorel, Péguy, a predominância das ideias económicas tem por efeito não somente obscurecer a lei moral, mas também corromper os princípios políticos. O respeito pelos anciãos, pelos pais, pelos filhos, pela mulher, pela família, pelo trabalho, pela pátria, por si mesmo, o respeito por tudo o que é superior, pelas tradições, o sentimento dominador do sacrifício pela família e pela comunidade, estão no centro das suas preocupações. Para eles o verdadeiro socialismo não é a escola da pequena felicidade burguesa, mas uma conduta de vida, uma forma de reencontrar o sentido da honra, da nobreza de alma, do heroísmo e do sublime."

Arnaud Imatz
in "Par delà droite et gauche. Permanence et évolution des idéaux et des valeurs non conformes", Paris, Godefroy de Bouillon, 1996

Por Portugal

"Chegou a ocasião de tomar partido ou por Portugal, ou contra êle; ou ter como fim o indivíduo em si, ou reconhecer a sociedade como guarda suprema do interêsse geral. Duma parte, está a Declaração dos Direitos do Homem; fica, do outro lado, a Declaração dos Deveres do Homem em sociedade. Aquela não reconhece outra lei, senão a lei interior e subjectiva da consciência de cada indivíduo; todo o interesse da vida reduz-se para ela ao bem-estar de cada sêr humano, fazendo tábua-raza de tudo o que a êle o precedeu; a declaração dos deveres, pelo contrário, inspira-se no património recebido e proclama que o homem é que foi feito para a sociedade e não a comunidade para o homem."

Luís de Almeida Braga
in "O Culto da Tradição", Coimbra, 1916, pág.3

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Electro-futurismo

Biobetabunker é o nome de uma banda electrónica italiana. Criada a Junho de 2007, combina várias tendências electrónicas e experimentais, convergindo individualmente numa única direcção, não por uma vontade definida mas devido a algo que os membros da banda consideram como "destino".
Os Biobetabunker designam o estilo da sua música por "electro-futurista". Se por um lado vão buscar inspiração a bandas electónicas das décadas de 80 e 90, como Kraftwerk, Depeche Mode e até Chemical Brothers, Prodigy e FatboySlim, por outro lançam raízes numa dinâmica "fiumano-futurista" que considera L. Russolo e B. Pratella (fundadores do "Manifesto dos músicos futuristas") os verdadeiros pioneiros da música electrónica. As letras variam de uma dinâmica futurista para slogans "d'annunzianos" adaptados à situação contemporânea.
O projecto BBB, que lançou o seu primeiro álbum (Catenaccio!) a Junho de 2008, procura no fundo dar um espírito aos ritmos electrónicos.

Frente de batalha do espírito

«Dobrou os braços, com as mãos por baixo da cabeça e olhou para as tábuas escuras do tecto, na escuridão situada para lá do alcance do candeeiro. Era da morte que estava à espera? Ou de um violento êxtase dos sentidos? As duas coisas pareciam sobrepor-se, quase como se o objecto do seu desejo físico fosse a própria morte. Mas, fosse como fosse, a verdade é que o tenente nunca antes tinha experimentado esta sensação de liberdade.
Na rua, ouvia-se o barulho de um carro. Conseguia-se perceber os guinchos dos pneus sulcando a neve amontoada ao pé do passeio. O som da buzina fez eco nas paredes da vizinhança... Ouvindo estes barulhos, o tenente teve a sensação de que a sua casa se erguia como uma ilha solitária no oceano de uma sociedade que continuava, como sempre, a fazer o seu negócio. À volta, extenso e desarrumado, estendia-se o país pelo qual ele sofria. Ia dar a vida por ele. Mas prestaria aquele grande país, que ele estava prepradao para admoestar a ponto de se destruir a si próprio, alguma atenção à sua morte? Não sabia; e isso não importava. O seu campo de batalha era um campo sem glória, no qual ninguém podia mostrar acções de coragem: era a frente de batalha do espírito.»

Yukio Mishima
in "Morte no Verão", Editorial Estampa, 1996.

6 de Julho: dia internacional do Tibete

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Ideologia de ruptura por excelência...

"Nos anos quarenta, tal como no virar do século, as direitas mantêm-se apenas duas: perante liberais e conservadores erguem-se os revolucionários, os dissidentes, os contestatários. Na verdade, não são mais do que duas realidades históricas representadas por duas categorias analíticas. De um lado, os homens e movimentos que aceitam os princípios de base e as regras do jogo em vigor na democracia liberal - o que implica igualmente uma aceitação de facto da ordem estabelecida - e de outro lado, os que a rejeitam: os revoltados que durante todo o meio século que vai até ao Verão de 1940 prepararam a queda da democracia. (...)

Os movimentos fascistas - todos os movimentos fascistas - participam de uma mesma genealogia: uma revolta contra a democracia liberal e a sociedade burguesa, uma recusa absoluta em aceitar as conclusões inerentes à visão do mundo, à explicação dos fenómenos sociais e de relações humanas de todos os sistemas de pensamento ditos «materialistas». (...)

É assim que emerge da realidade histórica do meio-século que precede a Segunda Guerra Mundial a essência do fascismo: uma síntese de nacionalismo orgânico e de socialismo anti-marxista, uma ideologia revolucionária fundada sobre a recusa ao mesmo tempo do liberalismo, do marxismo e da democracia. Essencialmente, a ideologia fascista é uma recusa do «materialismo» - o liberalismo, o marxismo e a democracia não representam mais do que diferentes facetas do mesmo mal «materialista» - e assume-se como geradora de uma revolução espiritual total. O activismo fascista, aliado ao elitismo, preconiza um poder político forte, livre dos entraves da democracia: emanação da Nação, o Estado representa a sociedade reunindo todas as suas classes. A planificação, o dirigismo económico, o corporativismo constituem elementos maiores do pensamento fascista, que se traduzem mais concretamente na vitória da Política sobre a Economia e na entrega de todas as alavancas de comando da economia e da sociedade nas mãos do Estado.

Ideologia de ruptura por excelência, o fascismo representa a recusa de uma certa cultura política associada à herança do século XVIII e da Revolução Francesa. Propõe lançar as bases de uma nova civilização. Uma civilização comunitária, anti-individualista, única via capaz de assegurar a permanência de uma colectividade humana onde são perfeitamente integrados todos os estratos e classes da sociedade.
O quadro natural dessa colectividade harmónica, orgânica, é a Nação. Uma nação apurada, revitalizada, onde o indivíduo representa uma célula do organismo colectivo; uma nação que goza de uma unidade moral que o liberalismo e o marxismo, ambos factores de deslocação e de guerra, nunca poderiam assegurar. São essas as componentes do «mínimo» fascista: a força do fascismo vem da sua universalidade, do seu carácter de produto de uma crise da civilização."

Z. Sternhell
in "Ni droite ni gauche. L'idéologie fasciste en France", Complexe, 2000.

Novo sítio das Jeunesses Identitairess

Auto-intitulados dissidentes desde 2002, as Jeunesses Identitaires são a secção juvenil da organização francesa Bloc Identitaire.
Ontem, ao mesmo tempo em que um servidor de blogues tentava censurar a maior parte dos sítios locais da associação, as Jeunesses Identitaires estreavam finalmente o seu novo portal.

terça-feira, 1 de julho de 2008

George Sorel (II)

No começo era a acção

Retomando a distinção, já hoje clássica, entre guerra «justa» e guerra «injusta», opõe a violência burguesa à violência proletária. Esta última, possui a seus olhos uma dupla virtude. Não só deve assegurar a revolução futura mas é ainda o único meio de que dispõem as nações europeias, «embrutecidas pelo humanitarismo», para reencontrar a sua antiga energia.
A luta de classes é por um afrontamento de vontades firmes, mas não cegas. A violência torna-se na manifestação de uma vontade. Ao mesmo tempo, exerce uma espécie de função moral: produz um estado de espírito de equipa.
— A violência, declara Sorel ao seu amigo Jean Variot, é uma doutrina intelectual: a vontade de cérebros poderosos que sabem o que querem. A verdadeira violência é o que é necessário para se ir até ao fim das ideias (Propos de George Sorel, Gallimard, 1935).
Sorel teria aprovado estas palavras de Goethe: «No começo era a acção». Para ele, faça o que fizer, o homem que age é sempre superior ao homem que se submete: «A verdadeira violência faz surgir no primeiro plano o orgulho do homem livre».
Para que o mundo actual readquira a sua energia é preciso um «mito», isto é, um tema que não seja nem verdadeiro nem falso, mas que aja poderosamente nos espíritos, mobilize e incite à acção.
George Sorel via na Prússia do último século a herdeira da antiga Roma.
Para cantar as «virtudes prussianas», encontra um tom que não deixa de evocar Moeller Van der Bruck (Der Preussische Stil). «Sorel, o artesão, tem o culto do trabalho bem feito, nota Claude Polin, e o trabalho bem feito deve constituir um fim em si, independentemente dos benefícios que dele se retiram. Este desinteresse é próprio da violência: no fundo do pensamento de Sorel há a intuição de que todo o trabalho é uma luta, em especial o trabalho bem feito e até, de que o trabalho só é bem feito quando é uma luta. Esta ideia retoma a intuição do carácter essencialmente prometeíco do trabalho. Todo o verdadeiro trabalho é uma transformação das coisas que comporta a necessidade de se transformar a si próprio e aos outros consigo».
Pouco a pouco, Sorel acaba por denunciar a democracia (verdadeira ditadura da incapacidade) conjugando o já acentuado por um Maurras, um Bakounine e um Secrétan.
A ditadura do proletariado surge-lhe mais ou menos como um engodo: «É preciso ser-se ingénuo para supor que todas as pessoas que retiram proveito da ditadura demagógica abandonariam facilmente as suas vantagens». De passagem, recusa o papel de vanguarda que o bolchevismo intelectual pretende para si: «Todo o futuro do socialismo reside no desenvolvimento autónomo dos sindicatos operários» (Matériaux pour une Théorie du Prolétariat). «Marx nem sempre foi bem inspirado», prossegue ele. «Nos seus escritos, acontece-lhe introduzir quantidades de velharias provenientes dos utopistas.»
Esta concepção da acção está em completa oposição com as teorias «vanguardistas» (o trotskysmo, por exemplo). Mas encontramo-la nas propostas do sindicalismo revolucionário e do anarco-sindicalismo.
Finalmente, se Sorel defende o proletariado com um tal encarniçamento, não é por sentimentalismo, como Zola, nem pelo gosto pequeno-burguês da culpabilidade, nem mesmo porque o aflige uma «consciência de classe». É por que está convencido que, no seio da sociedade burguesa, só no povo se poderá encontrar a energia que as classes dirigentes perderam. Consciente das «ilusões do progresso», constata que as sociedades, como os homens, são mortais. A esta fatalidade, opõe uma vontade de viver de que a violência é uma das manifestações.
Hoje em dia, Sorel denunciaria tanto a sociedade mercantil como os mestres pensadores da contestação. «Marcuse representaria a seus olhos», escreve Polin, «o exemplo típico do homem degenerado pela crença beatífica do progresso, iludido por um progresso de que nada compreendeu e tudo esperava, incapaz de pôr a sua esperança para além de um progresso exacerbado, radicalizado, nesse sonho de uma abundância, de tal modo automática, que traria em primeiro lugar a felicidade tornando possível a saciedade desordenada das paixões mais loucas, numa palavra, incapaz de compreender que a fonte do mal está no homem, desvirilizado pela fé económica».

Alain de Benoist
in "Nova Direita Nova Cultura – Antologia crítica das ideias contemporâneas", Lisboa, Fernando Ribeiro de Mello/Edições Afrodite, 1981.