sexta-feira, 27 de junho de 2008

Só os criminosos sabem fazer amor

É preciso ser sincera: mas existe em circulação uma só, digo uma mulher, que ache atraente um macho (ou será mais apropriado, aqui, dizer um “homem”) que não perca uma boa ocasião para provocar e experimentar uma comoção proclamando-se promotor do respeito pelos direitos humanos? Se me encontrassem uma das minhas congéneres disposta a jurar-me e a provar-me (com a mão sobre a consciência) que sente desejo por um pacifista não hesitarei em pronunciar os votos (sublimando por fim a minha particular paixão pelo isolamento naqueles extenuados paraísos da perversão que são os lugares de fé).

Erro se aposto que um bom número de casos de disfuncionalidades sexuais seriam exorcizadas simplesmente mudando a forma de governo? Ou, pelo menos, impedindo-a de impor a todos a mistela retórico-sentimental do bom coração, dos bons sentimentos, da piedade, da solidariedade, e o sórdido pranto de que somos todos – os deformados e os rectos, os belos e os feios – iguais? É irrealista insinuar que, para além do culto do orgulhoso e do forte, estes tempos estão também a destruir a linfa erótica, o élan do desejo? Mas que apelo poderá alguma vez gabar-se de exercer um bípede empenhado em missões humanitárias? Talvez um pouco, se está de hábito clerical, beneficiando daquele ímpeto de profanação no qual o animal homem tanto se exalta… O infame Catilina deixou-nos com estes hinos: "incendium meum ruina exstinguam": "extinguirei o meu incêndio na ruína”. (…) E as mulheres desesperam e vestem o fato para extinguir o seu incêndio na carreira. E a polaridade entre os géneros – geradora daquelas cargas e descargas que dão as asas ao homem, que fazem dele montanha e dela abismo – torna-se cada vez mais rara (e subitamente os gay a aproveitarem para o seu ridículo orgulho público de legitimação, que sacia o vício que desde há milénios escondiam e cultivavam). Como sentiu com justiça e tão profundamente aquela senhora da república calvinista de Genebra que encerrou a questão sentenciando: "só os criminosos sabem fazer amor"!

Anna K. Valerio

(Traduzido por Rodrigo N.P.)

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