quinta-feira, 12 de junho de 2008

Origem da Ratazana Negra

Apresentar Jack Marchal não é tarefa fácil. Autêntica referência cultural nacionalista, há trinta anos que frequenta os mais míticos grupos franceses (Occident, GUD - Groupe Union Défense, Ordre Nouveau, PFN) com o seu humor corrosivo. Segundo as suas palavras: "foi vendo os esquerdistas do campus de Nanterre que entendi que os inimigos desses idiotas não poderiam ser outra coisa que meus amigos; foi assim que conheci a cruz céltica, no Inverno de 1966-1967". No artigo seguinte, descreve-nos a génese do símbolo da militância nacionalista radical, a ratazana negra! Essa ratazana negra de humor ácido criou um espírito particular, combinando agressões verbais, auto-ironia, nostalgia humorística de quem é odiado por todos, provocação e orgulho; esse humor "vermelho e negro" que constitui a herança dos movimentos nacional-revolucionários em França, Bélgica, Espanha e Itália... Homem de cultura (desenhador de Alternative, célebre revista do GUD, co-autor com Fréderic Chantillon e Thomas Lagane da obra "As ratazanas malditas" sobre os 30 anos de história dos movimentos nacionalistas estudantis em França), Marchal é também músico, percursor da aventura do RIF, o Rock Identitário Francês, na qual participou. Em 1979 realizou um álbum entitulado "Science et Violence" (reeditado). Mais recentemente, foi guitarrista do grupo Elendil e gravou ainda um álbum a solo, sob o título "Sur les terres du RIF".

Pode explicar-nos como apareceu a Ratazana Negra?
Apareceu como símbolo do GUD há mais de trinta anos, em finais de Janeiro de 1970. De forma casual, sem ser totalmente fruto da sorte. Passo a explicar: nessa época, uma manada de grupúsculos político-sindicais de extrema-esquerda haviam aproveitado a relação de forças resultante de Maio de 68 para colonizar as universidades francesas. Os corredores das faculdades estavam repletas de faixas e de cartazes com textos intermináveis e repetitivos, de tipos que passavam o dia inteiro a escrever manifestos revolucionários de grande formato. É incrível como os marxistas sabiam ser extensos quando os deixavam. Na faculdade de Direito parisience de Assas, onde estávamos infiltrados, o GUD tentava distinguir-se da charlatanice do ambiente com cartazes o mais sucintos possível, com alguns slogans humorísticos desenhados com uma estética mutio particular. Assim, distinguiamo-nos à primeira vista, até pela ausência de símbolo (desde a dissolução do grupo Occident não nos atrevíamos a usar a cruz céltica). Eu era dos que estavam encarregados de fazer os cartazes (ou de, pelo menos, rever a ortografia), sob a direcção de Frédéric B., um dos antigos dirigentes do grupo Occident. Era um profissional, saído de Belas Artes, e era ele que desenhava os cartazes do Occident, assim como os primeiros do grupo Ordre Nouveau. Ensinou-nos que apenas a estética é revolucionária e que impor um estilo é o melhor meio de ser visto e de chegar a ser fortes.

Entretanto, nesse Inverno de 1969-70, deu aos nossos adversários para afixar cartazes de caricaturas, às vezes não muito más, que atraíam o olhar e que tinham normalmente como alvo o nosso grupo. Não podíamos ficar para trás, tínhamos que contra-atacar: o GUD expressar-se-ia com banda-desenhada gigante, com cores, legível de longe! Tinha feito banda-desenhada quando tinha 10 ou 12 anos e mais nada desde então, mas recuperei. E lançámos uma crónica ilustrada divertidíssima, quase quotidiana. Passava duas horas todas as tardes no local do GUD; com outros camaradas delirávamos enquanto seleccionávamos as ideias mais descabeladas... A actualidade facilitava o trabalho, já que a agitação universitária era notícia nos jornais. Foi isso que me levou a tratar o caso do reitor da universidade de Naterre, que havia sido forçado por esquerdistas a refugiar-se nos lavabos. Na nossa crónica desenhei-o no lixo, entre peixes podres e cascas. Desenhei também uma ratazana, era lógico nesse lugar... Na sua primeira aparição, estava apenas a roer uma cenoura, mas não tardou a expressar-se, a fazer comentários sarcásticos do seu canto. Era muito prática, a ratazana. É uma tendência muito natural colocar na margem um pequeno personagem que faça o contra-ponto com a cena principal (procedimento sistemático de Brueghel e de outros desenhadores americanos, sem esquecer Gotlib e a sua joaninha. Noto que desde há um tempo o infame Plantu não pára de desenhar uma pequena ratazana na esquina dos desenhos que publica para o Le Monde. Saberá o infeliz no que se está a meter?)

Então, estamos com essa ratazana que, no fundo, dizia o que tínhamos que dizer. É aí que Gérard Ecorcheville, o camarada que nesse momento era responsável pela propaganda do GUD, teve uma ideia que jamais poderemos agradecer: "Eh, mas essa ratazana... somos nós!". Essa genial observação pôs fim a uma das minhas principais dificuldades, que era saber como representar o GUD. Com o aspecto de heróicos cavaleiros hiperbóreos? De jovens raparigas e rapazes sobre eles? Em brutais batalhas sempre vitoriosas? Enfim, num golpe de mão encontrávamos uma representação satisfatória, um logotipo, um símbolo distintivo que nos diferenciava dos outros, um símbolo, todo um estilo. Foi um êxito imediato. No dia seguinte toda a faculdade identificava o GUD na ratazana, as massas empurravam-se para ler a crónica do dia. A ratazana negra foi copiada e recopiada por toda a parte, mesmo para além do GUD, apareceu inclusivamente na televisão durante os incidentes da faculdade em Fevereiro/Março de 1970.

in "Devenir" n.º13, 2002.

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