sábado, 21 de junho de 2008

E se decidíssemos parar o crescimento?

Degradação do meio ambiente, contaminação, esgotamento dos recursos naturais... Pode haver um crescimento infinito num mundo finito? A actual civilização industrial não poderá extender-se a todo o planeta. O "desenvolvimento sustentável" não fará mais que adiar as consequências se não se acaba com a lógica do "cada vez mais" e a busca permanente do benefício financeiro. É necessário acabar com a hegemonia dos valores mercantis e voltar a expor o problema da relação do homem com a natureza. Estas são as ideias principais que Alain de Benoist desenvolve no seu último livro: Demain la décroissance. Penser l’écologie jusqu’a bout (Edite, 2007).

O consumo de energia continua a crescer. Qual a sua opinião sobre as chamadas energias alternativas, como a eólica ou a foto-voltaica? Por outro lado, como deve actuar uma política séria de redução de consumo? Onde é realmente possível uma "poupança energética"?
O recurso a energias alternativas representa uma boa ideia. O erro é acreditar que com isso se poderá conservar o mesmo ritmo de crescimento. Hoje, com efeito, as possibilidades que oferecem as energias de substituição são limitadas. Os petróleos não convencionais, como os produzidos na Venezuela ou Canadá, para ser extraídos necessitam de quase tanta energia como a que geram. O gás natural pode servir para melhorar a extracção de petróleo ou fabricar gasolinas de síntese, mas necessita ainda mais energia. As reservas de carvão são mais importantes, mas é uma energia que contribui muito para o efeito de estufa, já que a sua extracção provoca emissões de metano e a sua combustão lança gases em grandes quantidades. A respeito do problema essencial da energia nuclear, este reside, como se sabe, no armazenamento dos resíduos radioactivos de grande duração (e numa catástrofa sempre possível).
Por outro lado, estas energias não podem substituir os complexos petroquímicos e os produtos de consumo corrente seus derivados. O hidrogénio é um vector de energia, mas não um recurso, e a sua produção comercial tem um custo duas a cinco vezes superior ao dos hidrocarbonetos utilizados para o produzir. Além disso, o preço do seu armazenamento é cem vezes superior ao dos produtos petrolífero. E cada vez que se produz uma tonelada de hidrogénio, produzem-se dez toneladas de gás carbónico. As energias renováveis derivam do vento, da água, dos vegetais e do sol. Actualmente, não representam mais do que 5,2% de toda a energia consumida no mundo. A priori são prometedoras, mas seria ilusório esperar mais. Os vegetais têm uma debilíssima capacidade energética. As bioenergias implicam uma desflorestação intensa. Os biocarburantes sintetizados a partir de vegetais têm um rendimento bastante limitado. A energia solar térmica ainda não atingiu um rendimento satisfatório a grande escala. A energia hidráulica é mais competitiva, mas exige grandes investimentos. A energia eólica é a mais barata, mas funciona apenas entre 20 a 40% do tempo, devido às variações do vento. Podemos citar outras técnicas de que também se fala, como a fusão nuclear, a "fusão a frio", as centrais solares espaciais, etc, mas a maior parte delas, até à data, não são mais que projectos, e quase todas exigem um sobreconsumo prévio de energia que torna incerto o seu balanço.

As alterações climáticas dos últimos anos estão a manifestar-se de forma cada vez mais clara. Porque parece que a população não está a prestar a necessária atenção a este fenómeno? Porque não se verificaram mudanças significativas nos modos de vida?
Não estou de acordo. Creio que a sociedade de hoje é mais sensível ao problema ecológico. E ainda mais no que diz respeito às perturbações climáticas, porque as pessoas são as primeiras a constatar os seus efeitos na vida quotidiana. O que se passa é que as pessoas não estão dispostas a aproveitar as consequências oportunas. Poderia dizer-se que, a este respeito, muita gente se comporta de forma "esquizofrénica": por um lado são conscientes da degradação do meio ambiente e dos riscos provocados, por exemplo, pelo aquecimento do clima, mas, por outro lado, querem conservar o mesmo estilo de vida a que estão habituados. Passará tempo até que se compreenda esta contradição. Daí que seja necessário todo um trabalho pedagógico cujo objectivo é fazer compreender que "mais" não significa necessariamente "melhor".
As pessoas estão habituadas a pensar que o "crescimento" e o "desenvolvimento" são fenómenos naturais, mas durante milénios a humanidade raciocinou de outro modo. Neste sentido a ideologia do progresso jogou um papel essencial. E ainda que hoje tenha perdido grande parte da sua credibilidade (o futuro parece mais cheio de ameaças do que promessas), as mentes não abandonaram a velha ideia de que um crescimento quantitativo permanente é sempre algo positivo e bom em si. As pessoas não vêem que uma tendência prolongada até ao infinito pode inverter-se bruscamente e converter-se no seu contrário (o "comportamento no limite", como se diz em matemática). Há que compreender que um crescimento infinito num mundo finito é uma contradição nos seus términos: não se pode viver indefinidamente a crédito de um capital que não se renova.

Circula uma teoria comum segundo a qual apenas a tecnologia está em condições de remediar os danos da tecnologia. Ou seja, o mecanismo industrial comprometeu irremediavelmente o ecossistema, o solo, as espécies vivas, de modo que um "regresso à terra", em forma de auto-produção e auto-consumo, de sobriedade e de redução de consumo, não poderá remediar os danos da modernidade; ou não os remedaria tanto como uma busca tecnológica cada vez mais avançada nestes sectores. Que opina a este respeito?
A teoria de que os defeitos da técnica poderão ser corrigidos por novos progressos da própria técnica é uma das numerosas versões do optimismo tecnológico. Como é óbvio, esta tese pode estar ocasionalmente certa (um erro pode ser sempre ocasionalmente correcto), mas, em termos gerais, corresponde melhor a um reconhecimento da própria impotência. O traço dominante da técnica é a sua capacidade para desenvolver-se a si mesma em função, exclusivamente, das suas possibilidades: aquilo que é tecnicamente possível será efectivamente realizado. No momento em que o desnvolvimento tecnológico se situa no horizonte da fatalidade, o homem condena-se a si mesmo a sofrer os seus efeitos, sejam quais foram. Em última análise, esta crença na capacidade da técnica para corrigir-se a si mesma não é mais do que um acto de fé.

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